quinta-feira, 19 de julho de 2007

Trecho do Livro: Melodia da Terra

"Então percebi. Aquele... era apenas o caseiro. Um pau-mandado que não
ia tomar nenhuma atitude. Era o intermediário que ia transmitir as ordens do
patrão, fosse este, ou fosse aquele. Iam tentar domar a terra com os chamados...
bóias-frias. Em alguns sítios vizinhos já haviam adotado esse método de cuidar
das lavouras. É mais barato – diziam –mas não é a mesma coisa! Não há amor
pelo que se planta. Não se harmonizam com a natureza. Não criam vínculos. Hoje
são uns e amanhã são outros. Uns plantam, aqueles limpam e outros colhem. Não há
o namoro, o noivado, e o compromisso. Tem que haver envolvimento pois, a terra,
não é prostituta.
Porém, os donos de terras querem pagar cada vez menos.
Muitos que fizeram isto, já tiveram suas lavouras transformadas em pasto depois
de algum tempo. Outros obtêm dela apenas um solo estéril. Nem todos compreendem
essa sinfonia. São poucos os que tocam, a melodia da terra!
Eram os
comentários que se ouviram um dia, quando o senhor Aldo estava em prosa com um
dos vizinhos. Mas agora... Que importa? Eles já se haviam ido e já não havia
mais volta. Não era para ser feito, mas feito está! O sonho partiu, acabrunhado
num trem. Quem quiser, que fique com os pesadelos."

Retratos

... Da mãe



A córnea funda e vermelha
De aparência senil
Uma flor que não se abriu
A um musgo se assemelha


O ventre duro opado
Os dedos finos, compridos,
Os pés abertos, feridos,
O olhar frio e apagado


Tem como foco a dor
Como fundo o temor
Como tema, a amargura.


Tem como brilho o suor
A palidez como cor
E a timidez por moldura.

Melodia da Terra


RESUMO
A narrativa começa com um cão moribundo que, na iminência de sua morte, reúne um bando de entes estranhos e passa a lhes contar a sua história.
Desde a sua infância, ao lado da mãe e de outros filhotes, o isolamento com a perda destes, a aproximação com a família de Jonas e a amizade que se desenvolve com esse menino.
Enquanto cresce, vai observando as características dos seres humanos, seu comportamento e vai vivendo as aventuras em meio às dificuldades que aparecem a cada dia.
Levado enjaulado para uma terra distante, em meio a um bando de homens rudes, anseia pelo momento de retornar e, aos poucos, com a ajuda dos seres estranhos, desperta dentro de si, um senso de direção que o leva ao caminho de volta.
Já junto da família que ele adotara anteriormente, percebe e começa a analisar a dura luta que travam para a sobrevivência. O trabalho diário, a exploração pelos donos da terra e, em meio a tudo isso, os momentos de amor e ternura vividos entre homem, animal e natureza.
Por fim, de forma inesperada, vê os seus entes queridos partirem e ele tem de enfrentar novamente a solidão e o desespero de estar só, culminando com um desfecho emocionante.

RESUMO:
Ruben, um jovem de vinte e três anos, teve uma educação repressora, sob os cuidados exagerados da mãe que, religiosa, separada do marido, pôs todo o rigor na criação do filho, mantendo-o afastado das mudanças sociais e, possivelmente, desencadeando traumas na sua infância ou adolescência. Agora, após saber que a mãe tem um amante e que este é o pai de sua namorada, Adriana, o que ocasionou a separação dos jovens, Ruben decide morar sozinho.
Dona Cléo, a proprietária do quarto alugado por ele, uma senhora simpática que o enche de mimos, travando de imediato uma amizade, fazendo dele, às vezes filho e às vezes, o companheiro que ela não tem, travando longas conversas sobre assuntos complexos como: religião, sexo, política, etc...
No quarto, Ruben evidencia o seu problema mental, o qual já vem tratando há algum tempo, quando começa a conversar com um interlocutor invisível, revelando a este os seus pensamentos, sua paixão e sua filosofia de vida. O interlocutor, Rafael ou Rafa, como prefere ser chamado, tem idéias opostas ao comportamento de Ruben e, a partir daí, passa a interferir na vida diária do rapaz.
Entre as armações da mãe e do amante, a rejeição da namorada e o conflito vivido com sua esquizofrenia, o rapaz luta para manter-se lúcido, distribuindo atenção, carinho, amor e tem uma compreensão inigualável dos problemas da vida, não se deixando abater e lutando, à sua maneira, para que tudo saia bem, dentro da sua forma de ser e pensar.
Na sua doce e simples visão do mundo que o rodeia, encontra um indigente e o leva para casa. Trata o homem com respeito e dedica-lhe toda a atenção que este nunca teve. Cria-se entre eles uma relação de amizade muito forte. O homem passa a ser o seu pai ausente e se torna para o ex-mendigo, o filho que este não teve.
Dessa estranha relação, surge o desfecho desse drama que, no limite entre a lucidez e a loucura, chega a um surpreendente desfecho.

Metamorfose

Deitado, eu, o homem, sobre a relva,
A sugar inconsciente o cheiro da terra;
O ar me circunda, penetra em meus poros,
E esse aroma provoca a metamorfose!
O corpo expande, se dilatando,
Estendendo-me até o horizonte!
Abraçando as árvores,
Atingindo as nuvens,
Atomizado, feito moléculas!
Mistura homogênea;
Espalhando-me na brisa,
Pulverizado, nos verdes montes!


Os raios do sol, cintilantes,
Atravessam minha pele, sensível,
Translúcida, transparente;
Fina película que se molda
Assumindo formas, reluzindo em cores...
Salamandra, borboleta, camaleão!
Mimetismo reversível
Que transforma, que deforma,
Que envolve e me devolve;
Que contrai e me retrai;
De novo a crisálida, de volta o verme;
De volta o verme... E o homem? Ainda não!

quarta-feira, 18 de julho de 2007

S. Levati

S. LEVATI, nasceu em General Salgado, no Estado de São Paulo, em 10 de abril de 1949. Vive hoje em São Paulo, onde, entre outras atividades, desenvolve também a sua literatura.
Analisando o seu texto, percebemos que vai da inocência a maturidade, de forma natural, compenetrada ou sensual, sem sofrer, entretanto, nenhuma conotação vulgar.
Sua literatura é uma casa com muitos cômodos, sem labirintos, mas, da entrada à saída, têm-se de se passar todos eles, com emoções diferentes e carregada de poesia.
Seu texto flutua, leve, sensível, humano e às vezes, filosófico, porém, sem nunca cansar o leitor, que o devora com paixão e arrebatamento.
Encontra-se em fase de preparação seu outro romance, "A MELODIA DA TERRA", e ainda a coletânea de poesias e crônicas, "PEDRAS E PLUMAS", com lançamento ainda este ano.